Dios mío, dame el coraje
Dios mío, dame el coraje
para vivir trecientos sesenta y cinco días y noches,
todos los vacíos de Tu presencia.
Dame el coraje para considerar ese vacío
como una plenitud.
Haz que yo sea Tu amante humilde
entretejida a Ti en éxtasis.
Haz que yo pueda hablar
con este vacío tremendo
y recibir como respuesta
el amor materno que nutre y arrulla.
Haz que yo tenga coraje de amarte,
sin odiar Tus ofensas a mi alma y a mi cuerpo.
Haz que la soledad no me destruya.
Haz que mi soledad me sirva de compañía.
Haz que tenga el coraje de enfrentarme a mí misma.
Haz que sepa estar con la nada
y también sentirme
como si estuviera plena de todo.
Recibe en tus brazos
mi pecado de pensar.
~
Nuestra violencia
Cuando pienso en esa alegría voraz
con que comemos gallina en salsa marrón,
me doy cuenta de nuestra violencia.
Yo, que sería incapaz de matar una gallina,
tanto me gusta que estén vivas
moviendo sus feos cuellos
y buscando gusanos.
¿No deberíamos comerlos a ellos y a su sangre?
Nunca.
No somos caníbales,
es necesario no olvidarlo.
Y respetar la violencia tenemos.
Y, quién sabe, no comeríamos gallina en salsa marrón,
comeríamos a la gente en su propia sangre.
Mi falta de coraje para matar una gallina
y sin embargo, comerla muerta
me confunde, me espanta
pero lo acepto.
Nuestra vida es violenta:
se nace con sangre
y con sangre se corta la unión
que es el cordón umbilical.
Y cuántos mueren ensangrentados.
Debemos creer en la sangre
como parte de nuestra vida.
La violencia.
También es amor.
Versiones de Nicolás López-Pérez
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Meu Deus, me dê a coragem
Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.
~
Nossa truculência
Quando penso na alegria voraz
com que comemos galinha ao molho pardo,
dou-me conta de nossa truculência.
Eu, que seria incapaz de matar uma galinha,
tanto gosto delas vivas
mexendo o pescoço feio
e procurando minhocas.
Deveríamos não comê-las e ao seu sangue?
Nunca.
Nós somos canibais,
é preciso não esquecer.
E respeitar a violência que temos.
E, quem sabe, não comêssemos a galinha ao molho pardo,
comeríamos gente com seu sangue.
Minha falta de coragem de matar uma galinha
e no entanto comê-la morta
me confunde, espanta-me,
mas aceito.
A nossa vida é truculenta:
nasce-se com sangue
e com sangue corta-se a união
que é o cordão umbilical.
E quantos morrem com sangue.
É preciso acreditar no sangue
como parte de nossa vida.
A truculência.
É amor também.
(Fuente: La comparecencia infinita)
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