domingo, 20 de abril de 2025

Fernando Pessoa (Álvaro de Campos: Lisboa, 1888 - 1935))

 Fernando Pessoa (Alberto Caeiro) - El misterio de las cosas, ¿dónde está?

 

 

“A Partida”

 
 
Entremos en la muerte con alegría. Se acabó
la obligación de vestirse, lavarse,
tener que razonar, simular, cuidar las maneras,
tener riñones, hígado, pulmones, bronquios, dientes,
todo lo que provoca enfermedad y sufrimientos
(a la mierda todo eso) [...] 
 
Mi cuerpo es mi ropa interior. ¿Qué me importa
que sea una basura enterrada en la tumba
y devorada por los gusanos?
Soy Yo.
He muerto, ¡viva Yo!
 
Me vestiré de estrellas para disfrazarme
y llevaré un sol como sombrero de paja
en el gran carnaval de ultratumba...
 
///


Entremos na morte com alegria! Caramba
O ter que vestir fato, o ter que lavar o corpo,
O ter que ter razão, semelhanças, maneiras e modos;
O ter rins, fígado, pulmões, brônquios, dentes.
Coisas onde há dor de [...] e moléstias
(Merda para isso tudo!)
 
Estou morto, de tédio também
Eu bato, a rir, com a cabeça nos astros
Como se desse com ela num arco de brincadeira
Estendido, no carnaval, de um lado ao outro do corredor,
Irei vestido de astros; com o sol por chapéu de coco
No grande Carnaval do espaço entre Deus e a vida.
 
Meu corpo é a minha roupa de baixo; que me importa
Que o seu carácter de lixo seja terra no jazigo
Que aqui ou ali a coma a traça orgânica toda?
Eu sou Eu .
Viva eu porque estou morto! Viva!
Eu sou eu .
Que tenho eu com a roupa-cadáver que deixo?
Que tem o cu com as calças?
Então não teremos nós cuecas por esse infinito fora?
O quê, o para além dos astros nem me dará outra camisa?
Bolas, deve haver lojas nas grandes ruas de Deus.
 
Eu, assombroso e desumano,
Indistinto a esfinges claras,
 
Vou embrulhar-me em estrelas
E vou usar o Sol como chapéu de coco
Neste grande carnaval do depois de morrer.
Vou trepar, como uma mosca ou um macaco pelo sólido
Do vasto céu arqueado do mundo,
Animando a monotonia dos espaços abstractos
Com a minha presença subtilíssima.
 
 
 Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa

(Fuente: Fragmentos Pessoanos)

No hay comentarios:

Publicar un comentario