
“A Partida”
Entremos en la muerte con alegría. Se acabó
la obligación de vestirse, lavarse,
tener riñones, hígado, pulmones, bronquios, dientes,
todo lo que provoca enfermedad y sufrimientos
(a la mierda todo eso) [...]
Mi cuerpo es mi ropa interior. ¿Qué me importa
que sea una basura enterrada en la tumba
y devorada por los gusanos?
Soy Yo.
He muerto, ¡viva Yo!
Me vestiré de estrellas para disfrazarme
y llevaré un sol como sombrero de paja
en el gran carnaval de ultratumba...
///
Entremos na morte com alegria! Caramba
O ter que vestir fato, o ter que lavar o corpo,
O ter que ter razão, semelhanças, maneiras e modos;
O ter rins, fígado, pulmões, brônquios, dentes.
Coisas onde há dor de [...] e moléstias
(Merda para isso tudo!)
Estou morto, de tédio também
Eu bato, a rir, com a cabeça nos astros
Como se desse com ela num arco de brincadeira
Estendido, no carnaval, de um lado ao outro do corredor,
Irei vestido de astros; com o sol por chapéu de coco
No grande Carnaval do espaço entre Deus e a vida.
Meu corpo é a minha roupa de baixo; que me importa
Que o seu carácter de lixo seja terra no jazigo
Que aqui ou ali a coma a traça orgânica toda?
Eu sou Eu .
Viva eu porque estou morto! Viva!
Eu sou eu .
Que tenho eu com a roupa-cadáver que deixo?
Que tem o cu com as calças?
Então não teremos nós cuecas por esse infinito fora?
O quê, o para além dos astros nem me dará outra camisa?
Bolas, deve haver lojas nas grandes ruas de Deus.
Eu, assombroso e desumano,
Indistinto a esfinges claras,
Vou embrulhar-me em estrelas
E vou usar o Sol como chapéu de coco
Neste grande carnaval do depois de morrer.
Vou trepar, como uma mosca ou um macaco pelo sólido
Do vasto céu arqueado do mundo,
Animando a monotonia dos espaços abstractos
Com a minha presença subtilíssima.
Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa
(Fuente: Fragmentos Pessoanos)
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