lunes, 20 de abril de 2020

João Cabral de Melo Neto (Brasil, 1920 - 1999)


La palabra seda





La atmósfera que te envuelve
alcanza tales atmósferas
que transforma muchas cosas
que te conciernen, o rodean.
Y como las cosas, las palabras
imposibles del poema:
ejemplo, la palabra oro,
e incluso este poema, seda.
Es cierto que tu persona
no hace dormir, sino despierta;
ni es sedante, palabra
derivada de la seda.

Y es cierto que la superficie
de tu persona externa,
de tu piel y todo
eso que en ti se siente,
nada tiene de superficie
lujosa, falsa, académica,
de una superficie cuando
se dice que es «como la seda».
Pero en ti, en algún momento,
tal vez fuera de ti misma,
tal vez incluso en el ambiente
que pones tenso cuando llegas,
hay algo de muscular,
de animal, carnal, pantera,
felina, de sustancia
felina, o su manera,
de animal, de animalmente,
de crudo, cruel, crueldad,
que bajo la palabra gastada
persiste en la cosa que es la seda.




en Quaderna, 1960



Traducción de Juan Carlos Villavicencio








A Palavra Seda


A atmosfera que te envolve / atinge tais atmosferas / que transforma muitas coisas / que te concernem, ou cercam. / E como as coisas, palavras / impossíveis de poema: / exemplo, a palavra ouro, / e até este poema, seda. / É certo que tua pessoa / não faz dormir, mas desperta; / nem é sedante, palavra / derivada da de seda. // E é certo que a superfície / de tua pessoa externa, / de tua pele e de tudo / isso que em ti se tateia, / nada tem da superfície / luxuosa, falsa, acadêmica, / de uma superfície quando / se diz que ela é «como seda». / Mas em ti, em algum ponto, / talvez fora de ti mesma, / talvez mesmo no ambiente / que retesas quando chegas, / há algo de muscular, / de animal, carnal, pantera, / de felino, da substância / felina, ou sua maneira, / de animal, de animalmente, / de cru, de cruel, de crueza, / que sob a palavra gasta / persiste na coisa seda.
(Fuente: Descontexto)

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