viernes, 20 de agosto de 2021

Paulo Leminski (Curitiba, Paraná, Brasil, 1944 – 1989)

 

Aviso a los náufragos

 

Esta página, por ejemplo,
no nació para ser leída.
Nació para ser pálida,
un mero plagio de la Ilíada,
alguna cosa que calla,
hoja que vuelve a la rama,
mucho después de caída.
 
Nació para ser playa.
Quien sabe Andrómeda, Antártida,
Himalaya, sílaba sentida,
nació para ser última,
la que no nació todavía.
 
Palabras traídas de lejos
por las aguas del Nilo,
un día, esta página, papiro,
va a tener que ser traducida,
para el símbolo, para el sánscrito,
para todos los dialectos de la India,
va a tener que decir buen día
a lo que solo se dice al pie del olvido,
va a tener que ser la brusca piedra
donde alguien dejó caer el vidrio.
¿No es así que es la vida?
 
 


Traducción Ricardo Ruiz
 
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Aviso aos náufragos

 

Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.
 
Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida,
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última,
a que não nasceu ainda.
 
Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta pagina, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não e assim que é a vida?


(Fuente: Ricardo Ruiz)

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