jueves, 3 de noviembre de 2022

Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 1902–Río de Janeiro, 1987)

 

desaparición de luísa porto











 
 
 
Se pide a quien sepa
del paradero de Luísa Porto
avise a su residencia
en la Calle Santos Óleos, 48.
Prevenga urgente
solitaria madre enferma
tullida hace largos años
yerma de sus cuidados.

Se pide a quien aviste a
Luísa Porto, de 37 años,
que aparezca, que escriba,
que mande decir
dónde está.
Se suplica al reportero-aficionado,
al cajero, al mata-mosquitos, al transeúnte,
a cualquiera del pueblo y de la clase media,
incluso a los señores ricos,
que tengan pena de madre afligida
y le restituyan a la hija volatilizada
o por lo menos den información.
Es alta, delgada,
morena, rostro velloso, dientes blancos,
marca de nacimiento junto al ojo izquierdo,
levemente estrábica.
Vestidito sencillo. Gafas.
Sumida hace tres meses.
Madre tullida llamando.

Se ruega al pueblo caritativo de esta ciudad
que tome en consideración un caso de familia
digno de simpatía especial.
Luísa es de buen genio, correcta, cariñosa, trabajadora, religiosa.
Fue a comprar al mercado de la plaza.
No volvió.

Llevaba poco dinero en la bolsa.
(Busquen a Luísa.)
De ordinario no se demoraba.
(Busquen a Luísa.)
Novio, eso no tenía.
(Busquen. Busquen.)
Hace tanta falta.

Y aunque aún no la hayan encontrado
no dejen por eso de buscarla
con obstinación y confianza que Dios siempre recompensa
y tal vez la encuentren.
Madre, viuda pobre, no pierde la esperanza.
Luísa iba poco a la ciudad
y aquí en el barrio es donde mejor puede ser buscada.
Su mejor amiga, después de la madre enferma,
es Rita Santana, costurera, moza descomprometida,
quien no da noticia ninguna,
limitándose a responder: No sé.
Lo que no deja de ser extraño.

Se sumen tantas personas anualmente
en una ciudad como Rio de Janeiro
que tal vez Luísa Porto jamás sea encontrada.
Una vez, en 1898,
o 9,
se sumió el mismo jefe de policía
que salió por la tarde a dar una vuelta en el Largo do Rocio
y hasta hoy.
La madre de Luísa, entonces joven, lo leyó en el Diário Mercantil,
se quedó pasma.
El periódico envuelto en la memoria.
Mal sabia ella que el matrimonio corto, la viudez,
la pobreza, la parálisis, la quejumbre
serían, en la vida, su lote
y que su única hija, afable porque estrábica,
se diluiría sin explicación.
Por última vez y en nombre de Dios
todo-poderoso y lleno de misericordia
busquen a la moza, busquen
a esa que se llama Luísa Porto
y no tiene novio.
Olviden la lucha política,
pongan de lado preocupaciones comerciales,
pierdan un poco de tiempo indagando,
inquiriendo, removiendo.
No se arrepentirán. No
hay gratificación mayor que la sonrisa
de madre en fiesta
y la paz íntima
consecuente a las buenas y desinteresadas acciones,
puro rocío del alma.
No me vengan a decir que Luísa se suicidó.
La santa lumbre de la fe
que ardió siempre en su alma
pertenece a Dios y a Teresita del Niño Jesús.
Ella no se mató.
Búsquenla.
Tampoco fue víctima de desastre que la policía ignora
y los periódicos no dieron.
Está viva para consuelo de una tullida
y triunfo general del amor materno
filial y del prójimo.

Nada de insinuaciones respecto a la moza casta
y que no tenía, no tenía novio.
Algo extraordinario habrá pasado,
terremoto, llegada de rey.
Las calles cambiaron de rumbo,
para que tarde tanto, es de noche.
Pero va a volver, espontánea
o traída de la mano benigna,
la mirada desviada y tierna, canción.

A cualquier hora del día o de la noche
quien la a encuentre que avise a Calle Santos Óleos.
No tiene teléfono.
Tiene una empleada vieja que coje el recado
y tomará providencias.

Pero
Si consideran que la suerte de los pueblos es más importante
y que no debemos atender a los dolores individuales,
si cierran los oídos a este apelo de timbre,
no importa, insulten a la madre de Luísa,
pasen la página:
Dios tendrá compasión de la abandonada y de la ausente,
erguirá a la enferma, y los miembros paralizados
ya se desatan en forma de búsqueda.
Dios le dirá:
Ve,
busca a tu hija, bésala y enciérrala para siempre en tu corazón.

O tal vez no sea necesario ese favor divino.
La madre de Luísa (somos pecadores)
se sabe indigna de tamaña gracia.
Y resta la espera, que siempre es un don.
Sí, los extraviados un día regresan
- o nunca, o puede ser, o ayer.
Y de pensar realizamos.
Quiere sólo a su hijita
que en una tarde remota de Cachoeiro
acabó de nacer y huele a leche,
la cólica, la lágrima.
Ya no importa la descripción del cuerpo
ni esta, perdonen, fotografía,
disfraces de realidad más intensa
y que anuncio alguno proveerá.
Cesen las búsquedas, radios, callaos.
Calma de flores abriendo
en el parterre azul
donde desabrochan senos y una forma de virgen
intacta en los tiempos.
Y de sentir comprendemos.
Ya no adelanta buscar a
mi querida hija Luísa
que mientras vagueo por las cenizas del mundo
con inútiles pies fijados, mientras sufro
y sufriendo me suelto y me recompongo
y vuelvo a vivir y ando,
está inerte
grabada en el centro de la estrella invisible.
Amor.

***

Versión de Raquel Madrigal Martínez

/
 

Desaparecimento de Luisa Porto



Pede-se a quem souber
do paradeiro de Luísa Porto
avise sua residência

À Rua Santos Óleos, 48.
Previna urgente
solitária mãe enferma
entrevada ha longos anos
erma de seus cuidados.

Pede-se a quem avistar
Luísa Porto, de 37 anos,
que apareça, que escreva,
que mande dizer
onde está.
Suplica-se ao repórter-amador,
ao caixeiro, ao mata-mosquitos, ao transeunte,
a qualquer do povo e da classe média,
até mesmo aos senhores ricos,
que tenham pena de mãe aflita
e lhe restituam a filha volatilizada
ou pelo menos dêem informações.
É alta, magra,
morena, rosto penugento, dentes alvos,
sinal de nascença junto ao olho esquerdo,
levemente estrábica.
Vestidinho simples. Óculos.
Sumida há três meses.
Mãe entrevada chamando.

Roga-se ao povo caritativo desta cidade
que tome em consideração um caso de família
digno de simpatia especial.
Luísa é de bom gênio, correta, meiga, trabalhadora, religiosa.

Foi fazer compras na feira da praça.
Não voltou.

Levava pouco dinheiro na bolsa.
(Procurem Luísa.)
De ordinário não se demorava.
(Procurem Luísa.)
Namorado isso não tinha.
(Procurem. Procurem.)
Faz tanta falta.

Se todavia não a encontrarem
nem por isso deixem de procurar
com obstinação e confiança que Deus sempre recompensa
e talvez encontrem.
Mãe, viúva pobre, não perde a esperança.
Luísa ia pouco a cidade
e aqui no bairro é onde melhor pode ser pesquisada.
Sua melhor amiga, depois da mãe enferma,
É Rita Santana, costureira, moça desimpedida.
a qual não da noticia nenhuma,
limitando-se a responder: Não sei.
O que não deixa de ser esquisito.

Somem tantas pessoas anualmente
numa cidade como o Rio de janeiro
que talvez Luísa Porto jamais seja encontrada.
Uma vez, em 1898,
ou 9,
sumiu o próprio chefe de polícia
que saíra a tarde para uma volta no Largo do Rocio
e até hoje.
A mãe de Luísa, então jovem, leu no Diário Mercantil,
ficou pasma.
O jornal embrulhado na memória.
Mal sabia ela que o casamento curto, a viuvez,
a pobreza, a paralisia, o queixume
seriam, na vida, seu lote
e que sua única filha, afável posto que estrábica,
se diluiria sem explicação.

Pela ultima vez e em nome de Deus
todo-poderoso e cheio de misericórdia
procurem a moça, procurem
essa que se chama Luísa Porto
e é sem namorado.
Esqueçam a luta política,
ponham de lado preocupações comerciais,
percam um pouco de tempo indagando,
inquirindo, remexendo.
Não se arrependerão. Não
há gratificação maior do que o sorriso
de mãe em festa
e a paz intima
conseqüente às boas e desinteressadas ações,
puro orvalho da alma.

Não me venham dizer que Luísa suicidou-se.
O santo lume da fé
ardeu sempre em sua alma
pertence a Deus e a Teresinha do Menino Jesus.
Ela não se matou.
Procurem-na.
Tampouco foi vítima de desastre que a polícia ignora
e os jornais não deram.
Está viva para consolo de uma entrevada
e triunfo geral do amor materno
filial e do próximo.

Nada de insinuações quanto à moça casta
e que não tinha, não tinha namorado.
Algo de extraordinário terá acontecido,
terremoto, chegada de rei.
As ruas mudaram de rumo,
para que demore tanto, é noite.
Mas há de voltar, espontânea
ou trazida por mão benigna,
O olhar desviado e terno, canção.

A qualquer hora do dia ou da noite
quem a encontrar avise a Rua Santos Óleos.
Não tem telefone.
Tem uma empregada velha que apanha o recado
e tomará providencias.

Mas
se acharem que a sorte dos povos é mais importante
e que não devemos atentar nas dores individuais,
se fecharem ouvidos a este apelo de campainha,
não faz mal, insultem a mãe de Luísa,
virem a pagina:
Deus terá compaixão da abandonada e da ausente,
erguerá a enferma, e os membros perclusos
já se desatam em forma de busca.
Deus lhe dirá :
Vai,
procura tua filha, beija-a e fecha-a para sempre em teu coração.

Ou talvez não seja preciso esse favor divino.
A mãe de Luísa ( somos pecadores )
sabe-se indigna de tamanha graça.
E resta a espera, que sempre é um dom.
Sim, os extraviados um dia regressam
- ou nunca, ou pode ser, ou ontem.
E de pensar realizamos.
Quer apenas sua filhinha
que numa tarde remota de Cachoeiro
acabou de nascer e cheira a leite,
a cólica, a lágrima.
Já não interessa a descrição do corpo
nem esta, perdoem, fotografia,
disfarces de realidade mais intensa
e que anúncio algum proverá.
Cessem pesquisas, rádios, calai-vos·
Calma de flores abrindo
no canteiro azul
onde desabrocham seios e uma forma de virgem
intata nos tempos.
E de sentir compreendemos.
Já não adianta procurar
minha querida filha Luísa
que enquanto vagueio pelas cinzas do mundo
com inúteis pés fixados, enquanto sofro
e sofrendo me solto e me recomponho
e torno a viver e ando,
está inerte
gravada no centro da estrela invisível
Amor.
 
 
(Fuente: La comparecencia infinita)

 

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