CARTA DE GUÍA
Incluso con este calor, quiero ir.
A tropezones, serpenteando, como sea,
porque existen personas que me esperan
y que han nacido para que me preocupe por ellas.
Llevo veintidós años hablando de mí
y habré de hablar de mí la vida entera:
¡tengo tanto que decir
y pasar al papel!
La anatomía de mi alma, principalmente,
que ha de quedar escrita,
para que vean lo extraño que es un hombre por dentro.
A tropezones, serpenteando, como sea,
porque existen personas que me esperan
y que han nacido para que me preocupe por ellas.
Llevo veintidós años hablando de mí
y habré de hablar de mí la vida entera:
¡tengo tanto que decir
y pasar al papel!
La anatomía de mi alma, principalmente,
que ha de quedar escrita,
para que vean lo extraño que es un hombre por dentro.
Pero ahora, en este momento,
y en otros iguales a este,
dejo aparte el binóculo con el que acecho
y gracias al que todo lo que es pequeño en mí me parece grande
y voy hacia delante, a pesar del calor,
a pesar de marchar como un borracho.
Hay manos extendidas, labios secos.
Casas en las que el Sol tiene pudor de entrar, de tan infectas.
Donde Dios se taparía la nariz, si llegase a la puerta.
Cuando las palabras son como tiritas de lino,
no hay nada mejor para el alma, hecha de carne viva de un hombre.
Por eso voy indiferente a este calor de junio.
El binóculo puede esperar.
Yo me quedo esperando.
Suelto barcos y redes,
no vaya a ser que aquellos que me esperan
hubieran muerto ya, cuando yo llegue,
o no tengan ya oídos para mis palabras,
ni aun labios que sientan
la frescura del agua que les llevo…
y en otros iguales a este,
dejo aparte el binóculo con el que acecho
y gracias al que todo lo que es pequeño en mí me parece grande
y voy hacia delante, a pesar del calor,
a pesar de marchar como un borracho.
Hay manos extendidas, labios secos.
Casas en las que el Sol tiene pudor de entrar, de tan infectas.
Donde Dios se taparía la nariz, si llegase a la puerta.
Cuando las palabras son como tiritas de lino,
no hay nada mejor para el alma, hecha de carne viva de un hombre.
Por eso voy indiferente a este calor de junio.
El binóculo puede esperar.
Yo me quedo esperando.
Suelto barcos y redes,
no vaya a ser que aquellos que me esperan
hubieran muerto ya, cuando yo llegue,
o no tengan ya oídos para mis palabras,
ni aun labios que sientan
la frescura del agua que les llevo…
CARTA DE GUIA
Mesmo com este calor eu quero ir.
Aos tropeções, aos bordos, de qualquer maneira,
porque há pessoas que estão à minha espera
e que nasceram pra eu me importar com elas.
Há vinte e dois anos que estou a falar de mim
e hei-de falar de mim a vida inteira:
tanta coisa que eu tenho para dizer,
e passar ao papel!
A anatomia da minha alma, principalmente,
que há-de ficar escrita,
pra que vejam como é esquisito um homem por dentro.
Aos tropeções, aos bordos, de qualquer maneira,
porque há pessoas que estão à minha espera
e que nasceram pra eu me importar com elas.
Há vinte e dois anos que estou a falar de mim
e hei-de falar de mim a vida inteira:
tanta coisa que eu tenho para dizer,
e passar ao papel!
A anatomia da minha alma, principalmente,
que há-de ficar escrita,
pra que vejam como é esquisito um homem por dentro.
Mas agora, neste momento,
e noutros iguaizinhos a este,
ponho de parte o binóculo com que me espreito
e graças ao qual tudo o que em mim é pequeno me parece grande
e vou prà frente, apesar do calor,
apesar de ir como um bêbado.
Há mãos estendidas, lábios secos.
Casas aonde o Sol tem pudor de entrar, de tão infectas.
Aonde Deus taparia o nariz, se chegasse à porta.
Quando as palavras são como pensos de linho,
não há nada melhor para a alma, feita de carne em chaga de um homem.
Por isso é que vou indiferente a este calor de Junho.
O binóculo fica à espera.
Eu fico à espera.
Largo barcos e redes,
não aconteça que os outros todos que estão à minha espera
tenham morrido já, quando eu chegar,
ou já não tenham ouvidos para as minhas palavras,
nem lábios que percebam
a frescura de água que eu levar...
e noutros iguaizinhos a este,
ponho de parte o binóculo com que me espreito
e graças ao qual tudo o que em mim é pequeno me parece grande
e vou prà frente, apesar do calor,
apesar de ir como um bêbado.
Há mãos estendidas, lábios secos.
Casas aonde o Sol tem pudor de entrar, de tão infectas.
Aonde Deus taparia o nariz, se chegasse à porta.
Quando as palavras são como pensos de linho,
não há nada melhor para a alma, feita de carne em chaga de um homem.
Por isso é que vou indiferente a este calor de Junho.
O binóculo fica à espera.
Eu fico à espera.
Largo barcos e redes,
não aconteça que os outros todos que estão à minha espera
tenham morrido já, quando eu chegar,
ou já não tenham ouvidos para as minhas palavras,
nem lábios que percebam
a frescura de água que eu levar...
(Fuente: La reversible)
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